A dor lombar é um sintoma extremamente prevalente na nossa sociedade, 65% da população experimenta crises quases diárias, e 84% vão experimentar crises importantes, justificando a busca por um neurocirurgião. As dores lombares são em sua grande maioria autolimitadas, causadas por contraturas musculares, essas em sua grande maioria em decorrência de má postura, sobrecarga no trabalho e fragilidade muscular devido o sedentarismo. Em uma mundo que não nos deixa parar, a buscar por um diagnóstico imediato e consequentemente um tratamento resolutivo e também imediato, causa ansiedade e apreensão no paciente. Atualmente a disponibilidade e o fácil acesso a realização de exames de ressonância magnética para investigação dessas dores, tem levado a um status quo, onde a não solicitação do exame pelo médico é algo inaceitável pelo paciente, onde o mesmo pressiona até a sua realização, e é onde mora o perigo. A lombalgia quando não apresenta sinais de alarme ou “red flags”, é em sua grande maioria benigna e não indicativa de maior investigação como uma ressonância magnética. E qual o problema então da grande realização de exames de imagens que vemos atualmente, em situações benignas, ou seja, sem a devida indicação?

A ressonância magnética tem a capacidade de identificar em alta resolução os mais diversos achados da nossa coluna, alterações degenerativas como discopatias diversas, com protrusões, pequenas herniações, hipertrofias facetárias, listeses de baixo grau, edema muscular entre outros. Esses achados devem ser descritos pelo radiologista e consequentemente estarão detalhados no laudo, MAS ISSO NÃO IMPLICA QUE AQUILO ALI É OBRIGATORIAMENTE A CAUSA DA DOR!!!, vejamos. Nós envelheçemos como um todo, ficamos com cabelo branco, carecas, com rugas, enfim, nosso corpo envelheçe tanto por dentro como por fora, e esses achados devem ser descritos quando ralizamos um exame. O impacto psicológico que ocorre no paciente ao ler todo o laudo e observar diversos achados que são totalmente compatíveis com a idade, mas com a palavra DEGENERATIVA, o que pode implicar uma doença e a palavra herniação o que implicar hérnia de disco, é significativo, prejudicando muitas vezes a melhora da crise de dor benigna, pelo forte efeito psicológico causado. Estudos mostram que paciente que erroniamente foram diagnosticados com hérnia de disco, tiveram pior resultado no tratamento clínico e menor índice de retorno as atividades laborais, em relação aqueles que foram devidamente orientados. Isso tudo causado pelo estigma de carregar o diagnóstico de hérnia de disco ou a tal doença degenerativa da coluna.

Os achados da ressonância magnética carregam também outro problema importante, a realização de procedimentos muitas vezes ineficazes ou desnecessários. Vários estudos mostram uma relação muito forte entre o número de exames de imagem realizados em uma determinada área geográfica e o número de cirurgias realizados naquela mesma área. Isso é causado por um supervalorização de achados completamente normais para a idade, em um paciente ansioso por melhora da sua dor.

Em conclusão, a disponibilidade do exame de ressonância magnética é uma faca de dois gumes, pois facilita o diagnóstico naqueles que realmente precisam, e possuem a indicação de realização com consequente correto diagnóstico e tratamento. Mas pode ser uma armadilha se encarada como mais um exame que deve ser realizado como protocolo em pacientes com dor lombar, pois leva ao encontro de diversos achados que não necessariamente tem relação com a queixa de dor, levando a ansiedade ao paciente e médico, com consequente dor crônica pelo efeito psicológico e procedimentos desnecessários.